Congresso debate regulamentação do cigarro eletrônico; médicos reforçam os perigos à saúde
- 29/09/2023
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Se lá pelas décadas de 1970 e 1980 as propagandas e os filmes transformaram o cigarro em algo legal e descolado para os jovens da época, hoje as redes sociais têm feito esse papel para o cigarro eletrônico - também conhecido como vape. No TikTok, são milhares de vídeos que ensinam a personalizar o próprio aparelho, maneiras diferentes de soltar a fumaça, além de resenhas dos produtos e seus diversos sabores - são aproximadamente 16 mil disponíveis no mercado, entre eles chiclete e bolo de morango.
"O vape deixa uma sensação melhor na boca porque tem gosto e cheiro bons, diferente do cigarro", compara Elisa* (nome fictício), de 20 anos. Ela preferiu não se identificar para que a família não descobrisse sobre o consumo do produto, que já dura dois anos. "Alguns amigos tinham e me ofereciam, até que aceitei e curti".
Assim como ela, 70% dos jovens usuários dos chamados dispositivos eletrônicos para fumar (ou DEFs), que estão na faixa dos 12 aos 17 anos, dizem que consomem os produtos devido à oferta de sabores, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Recentemente, a entidade até publicou um guia para as escolas garantirem um espaço livre de nicotina e tabaco. Segundo a OMS, a indústria do cigarro mira justamente nos mais novos, o que tem resultado em um aumento no consumo de vapes entre crianças e adolescentes.
De acordo com a pesquisa Ipec de 2022, os vapes são usados por mais de 2,2 milhões de brasileiros, além dos quase 6 milhões de adultos que usam o cigarro tradicional e já experimentaram o produto. Aliás, essa curva de experimentação cresce ano a ano, e o número de consumidores habituais mais do que quadruplicou entre 2018 e 2022.
No entanto, curiosamente, a venda, importação e publicidade dos cigarros eletrônicos são proibidas no Brasil desde 2009 pela Anvisa, que sempre avalia o tema. Da última vez, em 2022, o órgão decidiu manter a proibição. Agora, pela primeira vez, a discussão chega ao Congresso. Nesta quinta, dia 28, a Comissão de Assuntos Sociais do Senado (CAS), realizou uma primeira audiência pública para analisar a regulamentação da venda do cigarro eletrônico no País. A discussão foi proposta pela senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS).
Um dos argumentos mais usados por quem defende a liberação do produto é que ele funcionaria como um substituto menos nocivo dos cigarros tradicionais. Outra alegação é que, ao legalizar e definir regras para esse mercado, os consumidores estariam mais seguros. Mas especialistas em saúde contestam a medida. Segundo eles, o vape não é menos nocivo do que o cigarro tradicional - e liberá-lo poderia dar justamente essa impressão.
fonte correio do povo